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Shinjin Mei

Shinjin Mei

Confiança na Mente
Kanchi Sosan (?-606) - tradução e comentários monge Seigen Viana

1. O Caminho não é difícil de encontrar, apenas deixe de separar e escolher
[Sua entrada está sempre aqui, entre]
2. Quando livre de amor e ódio, o Caminho mostra-se claro e desimpedido
[Tudo o que vier à sua mente deixe vir e deixe ir...]
3. Uma ínfima distinção e céu e terra são separados
[O Caminho une o um ao um e a soma disso é zero]
4. Se você quer que o Caminho se manifeste, apenas não tome partido
[Não perca tempo defendendo e discutindo ideias]
5. Discutir e lutar por um dos lados é a doença da mente
[Avance na cura de si mesmo]
6. Se seu coração não intui a profunda liberdade do Caminho, medita em vão no silêncio
[A razão está livre do Caminho, mantenha-se livre também]
7. Perfeito como o espaço, no Caminho não há nada sobrando ou faltando
[Veja, não é uma questão de criatividade, entregue-se]
8. Justamente porque você guarda umas coisas e rejeita outras, o Caminho não se mostra
[Pense em não-pensar, vá na direção do desacúmulo]

9. Não busque por coisas dependentes, não se fixe no vazio
[Saia das extremidades]
10. Em uma mente verdadeiramente serena tudo desvanece findando por si só
[Desaprendendo tudo se libera sem nenhum esforço]
11. Por mais que você se esforce por aquietar-se, parando seu movimento, mais você se move
[Não-esforço é a chave do caminho]
12. Identificado com oposições, como reconhecer que são a mesma coisa?
[O que há para se identificar com alguma outra coisa?]
13. Quando o silêncio não é compreendido sua energia se esvai em contradições
[Nada buscar expõe completamente o nexo
]
14. Negar a realidade é confirma-la, firmar o vazio é negá-lo
[Apenas não toque em nada com a sua mente]
15. Quanto mais você fala, quanto mais você pensa, isto [a realidade] menos faz sentido
[Experimente e permaneça não-falando e não-pensando, o sentido é independente]
16. Pare de pensar e falar e sua mente permeia todas as coisas
[Uma consciência imensurável e sem limites, alcance!]
17. Retornar à raiz faz sentido, buscar a luz fora obscurece
[Saia por dentro de si, não há nada fora]
18. Quando dentro está iluminado vai além do vazio, antes do tempo
[Não-pensando o tempo perde suas carnes e ossos]

19. Porque a realidade é vazia, mudanças são apenas ilusões
[Experimente dez mil pontos de vista além do seu próprio]
20. Você não precisa buscar a verdade, apenas deixe de lado os pontos de vista
[A sabedoria não perde tempo escolhendo e separando]
21. Dualidades não têm consistência, não permaneça nelas
[Equilibre-se no fio de uma teia]
22. Quando afirmações e negações se instalam, a mente se nubla em confusão
[Quando caem as certezas cai a necessidade de tê-las]
23. Porque não há dois também não há um
[Toda matemática cabe num zero]
24. Um coração tranquilo e sem ocupação, miríade de coisas inocentes
[A mente não tem início nem fim, porque comparar isto com aquilo?]
25. Nada é certo ou errado, o Caminho não cria fixação
[Abandone dentro de si as convenções dos mapas e dos deveres sociais]
26. Quando não há sujeito não há objeto. Não havendo objeto não há sujeito
[Isto é além da interdependência]
27. O objeto se apoia no sujeito e o sujeito sustenta-se no objeto
[As duas verdades, se não há um eu aqui não há um eu lá
]
28. Pares opostos são a prova do vazio
[Se existem opostos a verdade está além]
29. Quando a mente atravessa todas as coisas como pode haver parcialidade?
[Como escolher o que comparar com o que?]
30. Se você não distinguir o sutil do grosseiro como poderá ser parcial?
[Livre do mecanismo que julga, não faz sentido aderir ao que seja]
31. O Caminho é inerentemente vasto, não se prende à facilidade ou dificuldade
[O Caminho não se prende à você]
32. Visões estreitas não findam as dúvidas, quanto mais se busca mais se demora
[A resposta atravessa a complexidade, reduzir a realidade é conveniente mas delusivo]
33. Agarrando-se a isso você perde a direção e cai em caminhos sem saída
[O grande movimento se expande sem caminhos definidos]
34. Deixa fluir naturalmente, o que importa não se fixa nem desaparece
[Perca a razão por um instante]
35. Entregando-se à natureza e vagando livremente você acaba com a insatisfação
[Descanse, você está em casa agora]
36. Pensamentos fixos se opõe à verdade, com eles surgem negatividade e entorpecimento
[Descubra o mecanismo de fixação da mente e mantenha-o em desuso]

37. Não é bom atormentar a si, de que vale evitar e se aproximar?
[De que vale o apego e a aversão?]
38. Se você quer ser um com o Grande Movimento, não seja averso aos seis campos sensórios
[O grande e único movimento de todas as coisas não exclui nem mesmo os seis sentidos e sua perspectiva limitada]
39. Os seis campos dos sentidos não são incorretos, eles são o mesmo que o despertar
[Embora confundidas com ilusão, as perspectivas criadas pelos seis sentidos não criam dependência]
40. O sábio nada faz, o tolo amarra a si mesmo
[O Caminho é sempre em direção à autenticidade]
41. Não existem coisas especiais, você arbitrariamente forma seus próprios apegos
[O estado não desperto é devido à ideia de dependência entre os objetos e isso é particular seu]
42. Tentar usar a mente para ver a própria mente, veja que grande erro
[É impossível ver de verdade com olhos condicionados da mente educada. É preciso se abrir para o “selvagem”, desaprender]
43. Confusão cria tranquilidade e perturbação, iluminação não tem bom nem ruim
[A classificação e o engano da escolha cria mundos incompatíveis constantemente]
44. O extremismo da dualidade é devido à medidas e escalas
[Se
u mundo será limitado pelo seu propósito de medir o mundo]
45. Sonhos, ilusões, flores no céu; por que o esforço de sustenta-los
[O mais importante já temos, por que tanto esforço?]
46. Ganho e perda, certo e errado – deixa ir tudo de uma vez por todas  
[Mantenha a sua mente sem nenhuma intenção por horas, diariamente]
47. Quando os olhos não estão dormindo, os sonhos perdem o sentido por si mesmo
[Com os olhos da mente bem abertos resta a imensidão sem fronteiras e sem fim, não mantenha a si distraído]
48. Se a mente não diferencia, a realidade se mostra como é, única
[Já está desperto e disponível ininterruptamente, basta não distinguir]
49. O que é real para o Coração é inimaginável – quiescente, esqueça as certezas
[Prajna é a potência do não-saber imediato]
50. Todas as coisas indiferenciadas, retorne em deixar as coisas como são
[Desista de mudar o mundo e a si mesmo(a)]
51. Elimine as suposições, isto não pode ser comparado
[Quando a identificação com causas & condições não tem lugar,
não há, sequer, o desejo de comparar]
52. Permaneça imóvel e a mobilidade cessa, mova-se e a imobilidade se desfaz
[O Grande Movimento é independente]
53. Se a realidade é não-dois, como pode existir o um?
[Contar é separar, conectar é separar. Sem isso o vazio se mostra, imaculado como sempre)
54. Vá até o fim e explore o que há depois, não busque padrões ou regras
[Essa é a prática dos bodhisattvas]

55. A mente não ocupada é equânime, assim toda fabricação cessa.
[A  mente é não-nascida, não há nada a acrescentar]
56. Livre-se das dúvidas persistentes e a verdadeira fé se apresenta.
[Você tem dúvidas para não ter mais dúvidas]
57. Nada permanece, nada há para carregar.
[O Caminho é intuitivo, livre-se de todo peso]
58. Deixe a luz vazia brilhar, não se esforce.
[Este agora-sempre é um manancial de tesouros sem acúmulos.
Reconheça que nada deixa marcas]
59. Não está no domínio dos pensamentos, nem das percepções e sentimentos
[Não há tempo a perder nem intermediários, é completamente direto]

60. Onde as coisas são [o que são], não há eu nem outros
[Quando não há mais um “eu” aqui automaticamente todos os outros “eus” caem]

61. Para estar desperto agora apenas se expresse através de “não-dois”.
[Isso é impossível, praticamente, portanto comporta um tanto de silêncio]
62. Não-dois é todo inclusivo, não há nada que não esteja contido.
[Não discriminando a mente se abre, perde o seu ilusório estreitamento]
63. Sábios de todas as direções – todos penetram essa fonte.
[Nada discriminar é uma abertura por onde se pode entrar. Não discriminar é um ato de inteligência espiritual]
64. A fonte não se limita a perto ou longe; um instante, dez mil anos.
[Tempo-espaço não podem condicionar a sabedoria]
65. Não há lugar onde não seja assim, dez mil direções diante dos olhos.
[O Grande Movimento, não ir a lugar nenhum]
66. É menor que o menor e maior que o maior, deixe para trás limites e dimensões.
[Este (aqui-agora) não é o mundo estreito de tudo o que é relativo]
67. O maior é o mesmo que o menor, não procure por fronteiras.
[Dentro de você é todo o universo]
68. Isto existe mas não existe, isto não existe mas existe.
[O que é contraditório é assim apenas para a mente dividida]
69. Se isto não fosse assim, não valeria a pena o seu tempo.
[Quanto menos você pensa mais assim é e maior é a satisfação]
70. Um é tudo e tudo é um.
[Logo um e tudo são não-dois]
71. Se você puder ser assim, que especulação não terá fim.
[Sem se apoiar na superfície sua tendência é ir fundo]
72. Fé na mente é não-dualidade – não-dualidade é fé na mente.
[Fé é não-crença, não-crença é transcender os objetos relativos da mente]
73. É independente do que é dito ou pensado; nem passado, nem futuro, nem presente.
[É muito antes das coisas e não-coisas terem nomes, portanto, o que “tempo” e “mistério” escondem?]

Fukanzazengi

Fukanzazengi

Instruções gerais para a prática do zazen
Dogen Zenji (1200-1253) - tradução monge Koun Campos

Quando se busca a fonte do caminho, percebe-se que ele é absoluto e tudo permeia. É desnecessário distinguir entre “prática” e “iluminação”. O ensinamento supremo é livre, então por que estudar os meios para alcançá-lo? O caminho é, desnecessário dizer, muito diferente da delusão. Por quê, então, preocupar-se com os meios de eliminá-la? O caminho está completamente presente onde você está, então para que servem a prática e a iluminação?

Contudo, se houver na origem uma minúscula distinção entre você e o caminho, o resultado será uma separação tão grande quanto a que há entre o céu e a terra. Caso um fugaz pensamento dualístico surja, você já perderá sua mente-de-Buda.

Por exemplo, algumas pessoas se orgulham do seu entendimento, e pensam que são fartamente dotadas da sabedoria de Buda. Elas pensam ter atingido o caminho, iluminado suas mentes e adquirido o poder de tocar os céus. Elas imaginam que viajam pelos campos da iluminação. Mas na verdade elas praticamente perderam o caminho perfeito, que está além da própria iluminação.

Você deve atentar para o fato de que mesmo Buda Shakyamuni teve de praticar zazen, durante seis anos. Também se narra que Bodhidharma teve de praticar zazen no templo de Shao-lin por nove anos para poder transmitir a mente-de-Buda. Se esses grandes homens sábios foram tão diligentes, como poderiam os praticantes de hoje em dia prescindir da prática do zazen? Você deve parar de perseguir palavras e erudição e aprender a se recolher e se refletir em si mesmo. Quando você faz isso, seu corpo e sua mente naturalmente são abandonados, e sua natureza-de-Buda original surge. Se você pretende compreender a sabedoria de Buda, deve começar a treinar imediatamente.

Para praticar o zazen é desejável ter um aposento silencioso. Você deve ser moderado no comer e beber e abandonar todas as atividades ilusórias. Pondo tudo de lado, não pense nem no bem nem no mal, nem no certo nem no errado. Desse modo, cessando as várias atividades mentais, abandone até mesmo a ideia de se tornar um Buddha. Isso é verdadeiro não só para o zazen, como para todas suas atividades diárias.

Coloque uma esteira grossa e quadrada sobre o chão onde você se sentará e sobre ela uma almofada redonda. Você pode se sentar igualmente nas posições de lótus completo ou de meio-lótus. Em lótus completo, coloque seu pé direito sobre sua coxa esquerda e então seu pé esquerdo sobre sua coxa direita. Em meio-lótus, apenas coloque seu pé esquerdo sobre a coxa direita. Suas roupas devem ser confortáveis, porém asseadas. Em seguida coloque as costas de sua mão direita sobre seu pé esquerdo a as costas da mão esquerda sobre a palma da mão direita, com as pontas dos polegares tocando-se levemente. Aprume o corpo, não se inclinando nem para a esquerda nem para a direita, nem para a frente e nem para trás. Suas orelhas devem estar no mesmo plano que seus ombros e seu nariz alinhado com seu umbigo. Sua língua deve ser colocada contra o céu da boca e seus lábios e dentes devem permanecer firmemente fechados. Mantendo seus olhos constantemente abertos, respire suavemente pelas narinas. Finalmente, tendo ajustado seu corpo e sua mente dessa forma, faça uma profunda respiração, balance seu corpo para a esquerda e para a direita e então permaneça solidamente, imóvel como uma rocha. Pense no não-pensar. Como se faz isso? Pensando além do pensamento e do não-pensamento. Este é o princípio fundamental do zazen.

Zazen não é “meditação passo a passo”, mas simplesmente a tranquila e agradável prática de um Buddha, a realização da sabedoria de Buddha. A verdade aparece, não há delusão. Se você compreende isso, você é completamente livre, como um dragão que alcançou a água ou um tigre que descansa na montanha. A lei suprema então surgirá por si mesma, e você se libertará do cansaço e da confusão mental.

Ao término do zazen, movimente o corpo vagarosamente e levante-se com tranquilidade. Não se mova abruptamente.

Pela virtude do zazen é possível transcender a diferenciação entre “mundano” e “sagrado” e conquistar a capacidade de morrer enquanto se pratica zazen ou enquanto se está de pé. Além disso, é impossível para nossa mente discriminativa entender como os Buddhas e ancestrais expressaram a essência do Zen para seus discípulos com o dedo, uma estaca, uma agulha ou um martelo de madeira, ou como eles transmitiram a iluminação com um hossu, um punho, um bastão ou um grito. Isso não pode ser compreendido por meio de poderes sobrenaturais e tampouco com uma visão dualística da prática e da iluminação. Zazen é uma prática além dos mundos subjetivo e objetivo, além do pensamento discriminativo. Portanto, nenhuma distinção deve ser feita entre o inteligente e o estúpido. Praticar o caminho com o coração uno é, por si mesmo, iluminação. Não há diferença entre prática e iluminação ou entre zazen e vida diária.

Os Buddhas e os patriarcas, tanto neste como noutro mundo, na Índia e na China, todos eles mantiveram a mente-de-Buddha e ressaltaram o treinamento Zen. Portanto, você deve dedicar-se exclusivamente à prática do zazen, completamente absorvido por ela. Apesar de ser dito que há inúmeras maneiras de entender o Buddhismo, você deve apenas praticar o zazen. Não há necessidade de abandonar seu próprio local de prática e empreender viagens inúteis para outros países. Se o seu primeiro passo for errado, você inevitavelmente fracassará. Você já teve a boa sorte de ter nascido com um precioso corpo humano, portanto não desperdice seu tempo em vão. Agora que você sabe qual é a coisa mais importante no Buddhismo, como pode se satisfazer com o mundo transitório? Nossos corpos são como o orvalho na relva, e nossas vidas como o brilho de um relâmpago, desaparecendo em um instante.

Praticantes determinados do Zen, não sejam pegos de surpresa por um dragão real ou dediquem muito tempo apalpando apenas uma parte de um elefante. Apliquem-se no caminho que leva diretamente à sua mente original de Buddha. Respeitem aqueles que alcançaram o conhecimento perfeito e nada mais têm a fazer. Tornem-se um com a sabedoria dos Buddhas e alcancem a iluminação dos patriarcas. Se praticarem zazen por algum tempo, compreenderão tudo isso. A casa do tesouro então se abrirá por si mesma e vocês poderão usufruí-la plenamente com seus corações.

Zazen Yojinki

Zazen Yojinki

Pontos a serem observados durante o Zazen
Keizan Zenji (1268-1325) - tradução monge Koun Campos

1.

Sentar-se é o caminho para esclarecer o solo da mente e permanecer tranquilamente em sua Natureza Original. Isso se chama “revelar sua Face Original” e “manifestar o solo verdadeiro”.

No zazen o corpo-mente é abandonado. O zazen situa-se muito além das formas do sentar ou do deitar.

Indo além de conceitos como bom ou mau, transcende-se qualquer distinção entre homens comuns e sábios, indo além da fronteira entre seres sencientes e Buda.

Pondo de lado todas as preocupações, desprenda-se de todos os apegos. Não faça absolutamente nada. Não produza nada com os seis sentidos.

O que é isso? Seu nome é desconhecido; não pode ser chamado de “corpo”, não pode ser chamado de “mente”. Ao se tentar pensar nisso, o pensamento desaparece. Ao se tentar falar sobre isso, as palavras morrem.

É como um tolo, um idiota. É alto como uma montanha, profundo como o oceano. Sem um pico ou sem as profundezas, seu brilho é impensável, ele se mostra silenciosamente. Entre o céu e a terra, apenas este corpo inteiro pode ser visto.

Isso não pode ser comparado – ele já morreu completamente. Com os olhos claros, não está em lugar nenhum. Onde haveria alguma poeira? O que poderia obstruir algo assim?

A água pura não tem frente ou verso, o espaço não tem dentro ou fora. Completamente pura, sua luminosidade brilha antes que a forma e o vazio sejam concebidos. Objetos da mente ou a mente em si mesma não têm onde existir.

Isso sempre existiu assim, mas ainda não tem nome. O grande mestre, o Terceiro Ancestral Sosan, temporariamente o denominou “mente”, e o Venerável Nagarjuna certa vez o chamou de “corpo”. Essência iluminada e forma, originando os corpos de todos os Budas, não há “mais” ou “menos” em relação a isso.

Isso é simbolizado pela lua cheia, mas essa mente é a própria iluminação. A luminosidade dessa mente brilha através do passado, resplandecendo no presente. Nagarjuna utilizou-se desse símbolo sutil para o samadhi de todos os Budas, mas esta mente não tem traços, não é dualista, e diferenças entre formas são apenas aparentes.

Apenas mente, apenas corpo. Diferenças e semelhanças fazem com que se perca o ponto exato. O corpo origina-se na mente, e, quando os corpos surgem, eles parecem ser distintos. Quando uma onda surge, seguem-se-lhe milhares de outras ondas; no momento em que uma formação mental surge, inumeráveis coisas aparecem, incessantemente, até que as 36 partes do corpo e a cadeia dos 12 elos interdependentes emerjam. Quando uma formação surge, ela se desenvolve continuamente, mas ela ainda existe somente devido ao acúmulo de uma miríade de dharmas.

 

A mente é como a água do oceano, o corpo como as ondas. Não há ondas sem água e não há água sem ondas; água e ondas não podem ser separadas, movimento e repouso não são diferentes. Por isso se diz: “uma pessoa vem e vai, vive e morre, como o corpo imperecível dos quatro elementos e dos cinco agregados”.

Zazen é ir direto ao Oceano do Despertar, manifestando o corpo dos Budas. A luminosidade natural da mente se revela no momento presente e a luz original surge de todos os lugares. Não há ganho ou perda no oceano e as ondas jamais voltam atrás.

 

2.

Os Budas surgiram neste mundo com a grande missão de ensinar às pessoas a sabedoria e o insight do Despertar e para oferecer-lhes a verdadeira entrada. Para isso, há um caminho pacífico e puro: o zazen. Esta é a completa prática da autocompreensão de todos os Budas como Budas. Este é o soberano de todos os samadhis. Penetrando neste samadhi, mesmo que por um instante, o solo da mente é esclarecido de uma vez. Você deve saber que este é o verdadeiro portal para o Caminho dos Budas.

Se você desejar esclarecer o solo da mente, abandone a confusão de seu limitado conhecimento e de suas interpretações, corte fora as noções de comum e sagrado, abandone todos os sentimentos deludidos. Quando a verdadeira mente da realidade se manifesta, as nuvens da delusão se dissipam e a lua da mente brilha luminosa.

 

 

3.

Buda disse: “Ouvir e pensar sobre isso é como fechar as portas para isso. Zazen é como ir para casa e sentar-se em paz”. Isso é verdade! Ao se ouvir e pensar sobre isso, os pontos de vista não são abandonados e a mente permanece obstruída; por isso é como se existisse uma porta fechada. Ao se sentar verdadeiramente, tudo é colocado em repouso e se pode penetrar em todos os lugares. Sentar-se assim é como voltar para casa e sentar-se em paz.

Afligir-se com as cinco obstruções é resultado da ignorância fundamental e a ignorância é resultado do não entendimento de nossa verdadeira natureza. Zazen é entender nossa verdadeira natureza. Mesmo que as cinco obstruções tenham sido eliminadas, se você não tiver eliminado a ignorância fundamental, ainda não se compreenderá como os Budas e os Ancestrais Iluminados. Para isso, a chave essencial é sentar-se e praticar o caminho.

Um velho mestre disse: “Quando a confusão cessa, a claridade surge; quando a claridade surge, a sabedoria aparece; quando a sabedoria aparece, a Realidade se mostra como ela é”.

Se você quiser fazer cessar sua confusão, deve abandonar seu envolvimento com pensamentos de “bom” ou “mau”. Não se deixe levar por assuntos desnecessários. Uma mente “desocupada” junto de um corpo “livre de atividade” é o ponto essencial a ser lembrado.

Quando as amarras da delusão desaparecem, a mente da delusão desaparece. Quando a delusão desaparece, a Realidade que sempre esteve presente se manifesta e você fica permanentemente consciente dela. Não se trata de extinção ou de atividade.

 

4.

Evite se deixar levar por artes e artimanhas, prescrever remédios e tirar a sorte. Guarde distância de música e de dança, de discussões e papos furados, da fama e do lucro. Compor poemas pode auxiliar no esclarecimento da mente, mas não se deixe levar por isso. O mesmo pode ser dito quanto à caligrafia e à literatura. Este é o principal pré-requisito para os praticantes do Caminho e a melhor forma de harmonizar a mente.

Não vista roupas luxuosas ou farrapos sujos. Roupas luxuosas despertam a ganância e o medo de ser roubado. Isso é um obstáculo aos praticantes do Caminho. Mesmo que alguém as ofereça a você, recusá-las é uma ótima tradição dos tempos antigos. Se acontecer de você ter roupas luxuosas, não se preocupe com elas; se forem roubadas, não procure ir atrás delas nem lamente sua perda.

Roupas velhas e sujas devem ser costuradas e limpas, caso contrário não o protegerão adequadamente e podem fazer com que você passe frio e adoeça, prejudicando sua prática. Embora não devamos nos preocupar demasiadamente com o conforto físico, roupas, alimentação e sono inadequados são conhecidos como as “três insuficiências” e farão com que sua prática seja penosa.

Não coma nada vivo, duro ou decomposto. Essas comidas impuras farão sua barriga agitar-se e causarão calor e desconforto ao corpo-mente, dificultando sua prática do zazen. Você deve comer para sustentar a vida, portanto não se inquiete quanto ao sabor. Além disso, se você se sentar após comer muito, vai se sentir mal. Independentemente de a refeição ter sido farta ou frugal, aguarde um pouco antes de se sentar.

Monges devem ser moderados ao se alimentar e tomar porções correspondentes a 2/3 do que poderiam comer. Todos os alimentos saudáveis, gergelim, inhames e coisas assim podem ser comidos.

Essencialmente, você deve harmonizar o corpo-mente.

 

5.

Quando estiver sentado em zazen, não se apoie numa parede, suporte ou tapume. Também não se sente em locais com vento ou em locais altos e expostos, onde você possa contrair alguma doença.

Por vezes, quando estiver sentado, você poderá sentir calor ou frio, desconforto ou tranquilidade, opressão ou liberdade, peso ou leveza, ou mesmo algo assustador. Essas sensações surgem devido à desarmonia da mente e da respiração. Harmonize sua respiração desta forma: abra um pouco sua boca, permita que as respirações longas sejam longas e que as curtas sejam curtas, e elas se harmonizarão naturalmente. Siga-as por algum tempo até que a consciência desperte e sua respiração se torne natural. Após isso, continue respirando pelo nariz.

Você pode sentir que está afundando ou flutuando, a mente pode por vezes parecer cega ou afiada. Algumas vezes você pode ver o exterior da sala, ou o interior do corpo, ou as formas de Budas e Bodhisattvas. Algumas vezes você pode acreditar que tem sabedoria e que compreendeu plenamente os sutras e os comentários. Essas condições extraordinárias são perturbações que surgem devido à desarmonia da mente e da respiração. Quando isso acontecer, assente sua mente em seu colo. Quando a mente afundar na obscuridade, leve sua atenção para o contorno do couro cabeludo ou para a parte posterior de seus olhos. Quando a mente se dispersar em distrações, leve sua atenção para a ponta do seu nariz ou para o tandem. Após isso, repouse sua atenção na palma esquerda. Sente-se por um período longo e não se esforce para acalmar a mente, que ela naturalmente se tornará livre de distrações.

Embora os Ensinamentos antigos sejam tradicionalmente importantes, não os escreva ou os leia ou os escute obsessivamente porque isso apenas dispersará a mente.

Em geral, tudo que exaure o corpo-mente causa doença. Não se sente onde haja fogo ou enchentes ou bandidos, nem próximo ao oceano, bares e bordéis, ou em locais onde vivam viúvas ou virgens, ou próximo a locais onde cortesãs cantem e toquem música. Não viva próximo a reis, ministros, famílias poderosas ou ricas, pessoas com muitos desejos, aqueles que perseguem fama ou aqueles que discutem desnecessariamente. Embora grandes cerimônias budistas e a construção de grandes templos sejam coisas boas, aquele que estiver comprometido com a prática do zazen não deve envolver-se com isso.

Não seja fanático pela pregação do Dharma, pois isso leva à distração e à dispersão. Não se deleite com grandes assembleias ou corra atrás de discípulos. Não procure estudar e praticar muitas coisas diferentes.

Não se sente onde for muito claro ou muito escuro, ou muito frio ou muito quente. Não se sente onde libertinos e prostitutas vivam. Vá a um monastério e permaneça lá, onde há um verdadeiro mestre. Vá para as profundezas das montanhas e dos vales. Pratique o kinhin à margem de águas puras e de montanhas verdejantes. Purifique a mente junto a um regato ou sob uma árvore. Observe a impermanência sem descanso, isso irá encorajá-lo a buscar o Caminho.

A almofada deve ser bem estofada para que você se sente confortavelmente. O local de prática deve ser sempre mantido limpo. Queime incenso e ofereça flores aos Protetores do Dharma, aos Budas e Bodhisattvas e sua prática será por eles protegida. Coloque uma estátua de Buda, de um Bodhisatva ou de um Arhat no altar e os demônios da distração não o subjugarão.

Permaneça sempre compassivo e deixe o poder ilimitado do zazen para todos os seres vivos.

Não se torne arrogante, vaidoso ou orgulhoso de seu entendimento dos Ensinamentos; este é o caminho daqueles que não trilham o Caminho e dos ignorantes. Mantenha o voto de pôr fim às aflições, o voto de obter o Despertar e apenas sente-se. Não faça absolutamente nada. Essa é a forma de praticar zazen.

Lave seus olhos e seus pés. Mantenha o corpo-mente tranquilo e comporte-se harmoniosamente. Abandone emoções mundanas e não se prenda a sentimentos elevados sobre o Caminho. Se alguém perguntar algo, mantenha-se em silêncio por três vezes; se ele ainda assim perguntar, e a pergunta vier de seu coração, então lhe dê os Ensinamentos. Se você desejar falar por dez vezes, mantenha-se em silêncio por nove, como se o musgo crescesse em sua boca. Seja como um leque no inverno, um sino de vento pendurado no ar, indiferente à direção que sopra o vento – assim são as pessoas que seguem o Caminho.

Não use o Dharma para proveito próprio. Não use o Caminho para fazer-se notado. Este é o ponto mais importante a ser lembrado.

 

6.

O zazen não se baseia em ensinamentos, prática ou realização, apesar de esses três aspectos estarem nele contidos. Avaliar a realização é algo que se baseia em alguma noção de iluminação – esta não é a essência do zazen. A prática é algo que se baseia em uma dedicação ativa – esta não é a essência do zazen. O ensinamento é algo que se baseia em libertar-se do mal e cultivar o bem – esta não é a essência do zazen.

Os ensinamentos são encontrados no Zen, mas não se trata de ensinamentos comuns. Mais do que isso, trata-se de apontar diretamente, apenas expressando o Caminho, falando com o corpo todo. Tais palavras não têm sentenças ou frases. Onde os pontos de vista terminam e os conceitos se exaurem, a única palavra penetra as dez direções, sem determinar um único fio de cabelo. Este é o verdadeiro ensinamento dos Budas e dos Ancestrais Iluminados.

Apesar de falarmos em “prática”, não é uma prática que você deva fazer. Ou seja, o corpo não faz nada, a boca não recita nada, a mente não pensa em nada, os seis sentidos são deixados em sua própria claridade e não são afetados. Assim, isso não é a prática de 16 estágios dos ouvintes, nem é a prática de entender os 12 elos da interdependência, baseada no isolamento. Nem se trata das seis perfeições contidas nas inumeráveis ações dos Bodhisattvas. É sem qualquer esforço, por isso é chamado Despertar ou Iluminação. Apenas repouse no samadhi em que todos os Budas se autocompreendem como Budas, vagando alegremente nas quatro práticas da paz e da bem-aventurança daqueles abertos para o que não se fecha. Esta é a profunda e inconcebível prática dos Budas e dos Ancestrais iluminados.

Apesar de falarmos em realização, essa realização não se define como “realização”. Esta é a prática do supremo samadhi, que é conhecido como não-nascido, não perturbado e que espontaneamente leva ao Despertar. É a porta para a luminosidade que se abre para a realização dos Budas, nascida a partir da prática da grande tranquilidade. Isso vai além dos padrões de sagrado e profano, além da confusão e da sabedoria. Isso é a realização da insuperável iluminação de nossa verdadeira natureza.

O zazen não se baseia em disciplina, prática ou sabedoria. Esses três aspectos estão todos contidos nele.

Disciplina é normalmente entendida como cessar ações erradas e eliminar o mal. No zazen tudo se resume a ser não-dualista. Abandone os inumeráveis conceitos e não se emaranhe em ideias como “Caminho de Buda” ou “caminho mundano”. Deixe para trás sentimentos sobre o Caminho assim como sentimentos prosaicos. Quando você deixa para trás todos os opostos, o que pode obstruí-lo? Isso é a disciplina sem forma do solo da mente.

Prática geralmente significa concentração ininterrupta. Zazen é abandonar corpo-mente, deixando para trás confusão e entendimento. Imóvel, sem atividade, não se é mais deludido, mas ainda se parece com um idiota, com um tolo. Como uma montanha, como o oceano. Sem qualquer indício de movimento ou repouso. Essa prática é não-prática porque não tem objeto de prática e por isso é chamada de Grande Prática.

Sabedoria geralmente é entendida como um claro discernimento. No zazen, todo conhecimento desaparece por si mesmo. Mente e discriminação são esquecidos para sempre. O olho-da-sabedoria deste corpo não discrimina, mas sim vê claramente a essência do Despertar. Desde o princípio ele é livre de confusão, corta fora os conceitos, e sua clara e aberta luminosidade penetra em todo lugar. Essa sabedoria é não-sabedoria; porque é uma sabedoria sem indícios, é chamada de grande sabedoria.

O ensinamento que os Budas pronunciaram em suas vidas são apenas essa disciplina, prática e sabedoria. Em zazen não há disciplina que não seja mantida, não há prática que não seja cultivada, não há sabedoria que não seja realizada. Sobrepujando-se aos demônios da confusão, atingindo o Caminho, fazendo girar a roda do Dharma e retornando ao sem-indícios, tudo emerge deste poder. Siddhis (realização espiritual) e atividades inconcebíveis, emanando luminosidade e proclamando os Ensinamentos – tudo isso está presente no zazen. Penetrar o Zen é zazen.

 

 

7.

Para praticar o sentar-se, busque um local calmo e ajeite uma almofada grossa. Não deixe que vento, fumaça, chuva ou orvalho penetrem no ambiente. Mantenha o local limpo, com espaço suficiente para seus joelhos. Apesar disso, nos tempos antigos, houve quem usasse um assento de diamantes ou grandes pedras como almofadas. O local onde você se senta não deve ser muito claro durante o dia nem muito escuro à noite; deve ser quente no inverno e fresco no verão. Isso é fundamental.

Desprenda-se da mente, do intelecto e da consciência, abandone a memória, o pensamento e a observação sozinhos. Não tente fabricar Buda. Não se preocupe com o quanto você acha que está indo bem ou mal; apenas entenda que o tempo é precioso, como se a sua cabeça estivesse em chamas.

Buda sentou-se ereto, Bodhidarma voltado para a parede; ambos eram comprometidos de coração. Sekito era como uma retorcida árvore morta. Nyojo alertou sobre a sonolência no sentar-se e disse: “Apenas-se-sentar é tudo do que você precisa. Você não precisa fazer oferendas de incenso, meditar no nome dos Budas, arrepender-se, estudar as escrituras ou recitar rituais”.

Quando se sentar, vista o kesa (exceto na primeira e na última partes da noite, quando a programação diária não estiver em curso). Não seja descuidado. A almofada deve ter 30 centímetros de espessura e 90 de circunferência. Não a coloque sob as nádegas, mas apenas sob metade das nádegas, até a base da espinha. É assim que os Budas e Ancestrais se sentaram. Você pode se sentar na postura de lótus completo ou meio lótus. Para sentar-se em lótus completo, coloque o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita. Afrouxe sua roupa, mas a mantenha alinhada. Coloque sua mão direita sobre o calcanhar esquerdo e sua mão esquerda sobre a palma da mão direita, com os polegares unidos, próximos ao corpo, na altura do umbigo. Sente-se ereto, sem pender para a esquerda ou direita, para a frente ou para trás. Orelhas, ombros, nariz e umbigo devem estar alinhados. Coloque a língua no palato e respire pelo nariz. A boca deve permanecer fechada. Os olhos devem permanecer abertos, mas não muito abertos, nem muito fechados. Harmonizando o corpo dessa forma, respire profundamente pela boca uma ou duas vezes. Sentado firmemente, balance o torso 7 ou 8 vezes em movimentos decrescentes. Sente-se ereto e alerta.

 

Então pense no que é o não-pensado. Como você pode pensar nisso? Esteja antes do pensamento. Esta é a essência do zazen. Despedace os obstáculos e torne-se íntimo da Consciência Desperta.

Quando quiser sair da imobilidade, coloque as mãos sobre os joelhos, balance o corpo 7 ou 8 vezes em movimentos crescentes. Respire pela boca, coloque as mãos no chão e levante-se suavemente da almofada. Caminhe lentamente, virando-se da direita para a esquerda.

Se o embotamento ou a sonolência afetarem seu sentar-se, mexa o corpo e abra mais os olhos, ou leve sua atenção para o limite do couro cabeludo ou entre suas sobrancelhas. Se ainda assim você não se refizer, esfregue os olhos ou o corpo. Se isso ainda não o acordar, levante-se e caminhe, sempre no sentido horário. Assim que tiver caminhado cerca de 100 passos, você não estará mais sonolento. A maneira de caminhar é dar meio passo a cada respiração. Caminhe sem caminhar, silenciosamente e sem se mover.

Se ainda assim você não se sentir desperto após o kinhin, lave os olhos e a testa com água fria. Ou cante os Três Preceitos Puros dos Bodhisattvas. Faça algo; apenas não pegue no sono. Você deve estar atento para o importante problema do nascimento e da morte e para a rapidez da impermanência. O que você está fazendo dormindo, quando seu olho para o Caminho ainda está nublado? Se o torpor ou a dispersão aparecerem repetidamente, você deve recitar: “Habitualmente ele é profundamente enraizado, por isso estou envolto pelo torpor. Quando esse torpor se dispersará? Que a compaixão dos Budas e Ancestrals elimine essa escuridão e pesar”.

Se a mente vagar, leve a atenção para a ponta do nariz e para o tandem e conte as inspirações e expirações. Se isso não interromper a dispersão, traga uma frase e permaneça atento a ela – por exemplo: “O que é isso que vem, portanto”? ou “Quando nenhum pensamento aparece, onde está a aflição? – Monte Meru!” ou “Qual é o significado de Bodhidarma ter vindo do Oeste? – O cipreste no jardim”. Ditos assim, dos quais você não pode extrair nenhum sabor, são adequados.

Se a dispersão permanecer, sente-se e observe aquele ponto em que a respiração termina e os olhos fecham-se para sempre e onde a criança ainda não foi concebida, onde nenhum único conceito pode ser formulado. Quando o sentimento de um duplo vazio – do eu e das coisas – aparecer, a dispersão certamente esmorecerá.

 

8.

Saindo da imobilidade, ocupe-se com suas atividades sem hesitação. Este momento é o koan. Quando a prática e a realização não guardam complexidade, então o koan é este momento presente. Este momento, que é antes que qualquer indício surja, a visão do outro lado da destruição do tempo, a atividade de todos os Budas e Ancestrais Iluminados, é apenas esta única coisa.

Você apenas deve parar e cessar. Tranquilize-se, passe inumeráveis anos como este momento. Seja cinzas frias, uma árvore seca, um incensário num templo abandonado, um pedaço intocado de seda.

Este é meu sincero desejo.

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